O rock brasileiro perdeu na noite desta quarta-feira (15) o tecladista Luiz Schiavon, um dos fundadores da banda RPM ao lado de Paulo Ricardo. A informação foi confirmada pela família do músico. Ele tinha 64 anos.
Segundo a nota oficial, Schiavon "vinha lutando bravamente contra uma doença autoimune havia 4 anos. Infelizmente, teve complicações na última cirurgia de tragamento e não resistiu. Luiz era, na sua figura pública, maestro, compositor, fundador e tecladista do RPM, mas acima de tudo isso, um bom filho, sobrinho, marido, pai e amigo. Portanto, a família decidiu que a cerimônia de despedida será reservada para familiares e amigos próximos e pede, encarecidamente, que os fãs e a imprensa compreendam e respeitem essa decisão. Esperamos que lembrem-se dele com a maestria e a energia da sua música, um legado que ele nos deixou de presente e que continuará vivo em nossos corações. Despeçam-se, ouvindo seus acordes, fazendo homenagens nas redes sociais, revistas e jornais, ou simplesmente lembrando dele com carinho, o mesmo carinho que ele sempre teve com todos aqueles que conviveram com ele".
RPM E ANOS 80
Junto com o cantor Paulo Ricardo, Schiavon fundou o RPM em 1982. Pianista clássico, Luiz usou seu conhecimento musical para determinar o som da banda, que tinha muito sintetizador nas canções, a exemplo de bandas inglesas da mesma época como Duran Duran, Depeche Mode, entre outras.
Os dois músicos começaram a compor juntos com uma ideia de seguir as tendências do pop/rock inglês, com muito technopop, synthpop e New Wave. Eles compuseram as primeiras canções da banda, que era um duo inicialmente, e criaram faixas como Rádio Pirata, Louras Geladas, Revoluções Por Minuto e Olhar 43. Sempre usando muito teclado, sintetizadores e bateria eletrônica.
Logo, Paulo e Luiz decidiram que precisavam de um guitarrista e Fernando Deluqui foi convocado para a missão. Fitas demo com as canções começaram a circular pelas gravadoras, que estavam ávidas atrás de bandas de rock, gênero que começava a ficar em alta no Brasil nos anos 80. Rapidamente o RPM passou a ser disputado por empresas como CBS e EMI. Depois de alguma negociação, Luiz e Paulo decidiram-se pela proposta da CBS e gravaram o primeiro disco Revoluções Por Minuto — lançado em 1984 — nos estúdios da Transamérica, em São Paulo. De última hora também colocaram na banda o baterista Paulo Pagni, o P.A., que completou a formação original do RPM.
O primeiro single, Louras Geladas, começou a tocar bastante nas rádios paulistanas e rapidamente se espalhou por outras cidades do Brasil. Seguiram-se outros hits, como Rádio Pirata, Revoluções Por Minuto, Olhar 43 e A Cruz e a Espada. Todas marcadas pela voz de Paulo e pelos superteclados de Schiavon, o que tornou o RPM uma banda de rock distinta de todas as outras do cenário brasileiro.
Este primeiro álbum vendeu bem, muito acima do esperado. O RPM passou a excursionar pelo Brasil, fazendo centenas de shows superlotados, aparecendo em programas de TV e tocando sem parar nas rádios. O grupo virou uma verdadeira febre maluca e sem precedentes por aqui.
Em 1986, houve o lançamento de Rádio Pirata - Ao Vivo, com as músicas de sucesso do disco de estreia e algumas inéditas. A vendagem foi gigantesca, vendendo mais de 2,5 milhões de cópias, um recorde.
Mas os músicos, todos ainda muito jovens na época e sem a experiência necessária, não aguentaram tamanho sucesso e pressão. Com algumas desavenças internas, o RPM anunciou o fim das atividades no início de 1987. Paulo e Luiz seguiriam ainda como uma dupla, mas sem usar o nome do grupo. Rapidamente, a CBS tratou de convencer os quatro rapazes a voltar com a banda, que era um sucesso sob qualquer ponto de vista.
No retorno, a banda gravou e lançou o disco chamado RPM e que ficou conhecido como Quatro Coiotes. Saiu em 1988. Mas com um som diferente do álbum de estreia, com teclados menos aparentes, o trabalho acabou não agradando muito aos fãs e vendeu muito pouco. O fracasso provocou novamente o fim do grupo, com os integrantes saindo em carreiras solo.
VOLTAS DO RPM
Com o fim da banda, Luiz lançou uma nova banda, o Projeto S, onde seguia usando muitos teclados, pianos e sintetizadores. Não fez muito sucesso e logo deixou de existir. Luiz passou então a se dedicar a outros trabalhos musicais e empreendimentos próprios. Fez trilha sonora para novelas, jingles para publicidade, entre outras atividades.
Em 1992, Paulo Ricardo decidiu retomar o RPM, junto de Deluqui. Schiavon não gostou da ideia e entrou com um processo para impedir seu ex-companheiro de usar o nome do grupo. A saída encontrada pelo cantor foi lançar o Paulo Ricardo & RPM, que lançou um disco autointitulado, mas a iniciativa teve vida curta.
Uma década depois, em 2002, todos os músicos decidiram novamente trazer o RPM de volta à vida. Gravaram um disco ao vivo, o MTV RPM 2002, com todos os hits e músicas novas. O álbum vendeu bem e o grupo saiu em turnê pelo país. Em 2004, quando estavam se preparando para lançar um novo disco de inéditas, houve um novo rompimento entre os integrantes e o grupo chegou uma vez mais ao fim.
Depois disso, Luiz se juntou a Deluqui e ao cantor André Lazzarotto e juntos criaram a banda L.S.D. (iniciais de seus nomes) e gravaram um CD que foi lançado de maneira independente. O tecladista passou também a comandar a banda que tocava ao vivo no programa do Faustão, na Globo.
Todos os integrantes do grupo seguiram assim seus caminhos e carreiras solo, mas em 2010, de novo, decidiram fazer mais uma tentativa com o RPM. Assim, em 2011 lançaram o disco Elektra, com músicas novas. Seguiu-se uma longa de turnê de quatro anos. Quando houve o fim destes shows, Paulo Ricardo decidiu soltar um disco solo, mas com a promessa de retornar à banda algum tempo depois, o que não aconteceu.
Luiz, Deluqui e P.A. decidiram manter o RPM ativo, processaram e tiraram Paulo e convocaram um novo membro. Pouco tempo depois disso, em 2019, o baterista P.A. morreu em decorrência de problemas respiratórios. Os músicos remanescentes gravaram novas músicas durante a pandemia e há a promessa do lançamento de um álbum do grupo para este ano. Luiz fez parte destas gravações todas.
O RPM vem fazendo alguns shows desde o fim da pandemia, mas Luiz, com problemas de saúde, participou de muito poucos deles. Sua última participação numa apresentação do grupo aconteceu em 22 de novembro de 2022, na cidade de São Carlos (SP). Atualmente há um tecladista substituto no lugar de Schiavon.
Há, assim, material inédito gravado por Luiz para ser lançado ainda. É parte do grande legado que o tecladista deixa para o rock e para a música brasileira.
Fonte: R 7